Jantar num Contentor
Ontem tive o privilégio de ir jantar ao Okah, a convite da Zomato e da Nescafé, num divertidíssimo Foodie MeetUp.
O Okah situa-se no Cais da Rocha Conde de Óbidos em Alcântara, no rooftop do LACS, uma Communitivity of Creators, ou seja uma comunidade de criadores e comunicadores.
As primeiras duas coisas que ficam na memória de qualquer pessoa quando se chega ao Okah é a vista e os contentores.
A vista é deslumbrante e é essa mesma vista que abarca o Tejo que dá o mote a todo o espaço onde a refeição tem lugar.
Contentores laranjas, decorados com temas de influência asiática, albergam mesas e cadeiras onde nos sentamos para nos perder entre sabores e numa viagem mental.
Para mim, a certa altura, olhando para os contentores ao meu redor, senti-me como se estivesse num comboio de carga a ver passar pessoas e países e culturas à velocidade de um olhar mesmo não saindo do lugar.
Sendo um jantar promovido em parte pela Nescafé, o menu, que sofreu algumas adaptações para a ocasião mas não se desvirtuando da sua essência, tinha várias referências a esse produto tão cobiçado: o café.
E obviamente que também houve muito café (delicioso) puro e duro por assim dizer: expresso, preparado em balão, um slow coffee chemex 100% arábica....a realidade é que em poucas horas acho que bebi mais cafeína que na última semana toda, o que me fez chegar a casa e ficar duas horas e meia a rebolar na cama com falta de sono (mas foi um pequeno preço a pagar por tamanha qualidade de café).
A companhia dos outros foodies foi muito engraçada, é giro ver pessoas que falam com a mesma paixão que nós sobre comida (mas tudo gente elegante, raio de pessoas com metabolismos acelerados), que não se importam quando nós demoramos 5 minutos a tirar a foto a um pedaço de pão porque elas fazem o mesmo.
Agora fique aqui esclarecido uma coisa, eu sou aquela pessoa que tira fotos com o telemóvel muito arcaicas, para conseguir uma foto não tremida já é uma dificuldade enorme, por isso não esperem ver-me equipado com uma daquelas máquinas fotográficas maiores que o meu antebraço ok?
Mas falemos da comida que isso é o mais importante.
Tudo começou com um Cocktail Nescafé Tonic, e sou sincero quando digo que não sou de todo apreciador de Gin.
Bebo, acho graça a mandar lá para dentro as baguinhas e raminhos e sei lá mais o que, mas não vivo por um Gin.
Só que este Cocktail Nescafé, com café Arábica do Brasil a deixar um toque de maracujá no final era qualquer coisa de outro mundo.
É que uma pessoa nem sentia o álcool o que obviamente torna esta bebida bastante perigosa se estivermos em público, porque quando dermos por ela podemos dar para nós a declamar poesia lírica de Bocage ou coisa que o valha.
Depois, como pré-entrada, um pão ázimo quentinho, onde se podia barrar ou um molho de pimentos picante, que só mostrava o seu verdadeiro potencial alguns segundos depois de estar em contacto com as nossas papilas gustativas, ou um molho de iogurte e pepino, óptimo para refrescar o palato de quem tivesse exagerado no molho de pimentos.
A entrada foi um Satay de fraldinha em molho de manteiga de amendoim e cebolinho, com um toque de café do Vietname.
A carne estava incrivelmente tenra mas achei que o molho de manteiga de amendoim estava demasiado manteiga e pouco molho para o meu gosto, porque quando o coloquei na boca senti-o imediatamente a colar-se-me a ela, mais ou menos o mesmo que acontece quando enfiamos uma colherada de manteiga de amendoim directamente do frasco na boca, e ficamos ali a tentar descolar aquela massa.
Esta espetada podia ser comida de forma eloquente no prato ou, tal como eu fiz, à mão e à dentada (sou uma pessoa cheia de classe eu sei!!!).
O prato de peixe consistiu numa dourada grelhada, caldo de Dashi com molho tamarindo e um ar de café.
O ar de café é a coisa mais engraçada que existe, e por ser mesmo um ar e não uma espuma, se quiserem tirar uma foto tem de ser rápidos, se não quando derem por ela já desapareceu tudo.
Colocar o ar na boca era quase como provar um pouco da espuma da rebentação do mar, só que em vez de salgado tinha um toque muito subtil de café.
A dourada estava divinal, e o caldo de Dashi, bem era tão bom, mas tão bom, que pedi uma colherzinha para não desperdiçar nem um pouco de tamanha delícia.
No prato de carne (e aqui eu já estava a rebolar com tanta comida) foi-nos servido uma presa de porco preto marinada com Kimchie com legumes grelhados e servida com molho típico base de café.
Fiquei agradavelmente surpreendido ao saber que além dos ingredientes típicos do Kimchie: a couve, a cenoura, a malagueta...também tinha sido usado uva, algo que não é frequente ver-se.
Foi um prato que não desiludiu, com a carne extremamente saborosa, os legumes apetitosos, enfim, nada a apontar.
A sobremesa, a sobremesa é que foi uma dor na minha alma.
Uma trufa de chocolate panada com wasabi com sorvete de maçã verde foi a proposta do Chef.
E digo já aqui, a sobremesa estava boa, a introdução em simultâneo da trufa e do sorvete na cavidade bucal era deliciosa, só que simplesmente não correspondeu às minhas expectativas.
O sorvete de maçã verde não tinha a acidez que se esperava dessa fruta.
Tive a oportunidade de comentar esse detalhe com o Chef ao qual ele amavelmente me respondeu que demasiada acidez poderia sobrepor-se a todos os outros sabores.
Eu posso perceber, mas se o meu cérebro está sintonizado para maçã verde eu estou à espera de saborear uma maçã verde.
A trufa de chocolate estava óptima, só que não consegui compreender qual foi o objectivo de utilizar o wasabi, porque estar lá ou não estar para mim era exactamente igual.
Mais uma vez, quando penso em wasabi vem-me logo à ideia um sabor forte, picante, capaz de nos dar um pequeno punch, e não foi isso que aconteceu de todo.
Se eu recomendaria irem ao Okah jantar num contentor?
Sem dúvida que sim.
Toda a inspiração asiática nos pratos que vos chegarem à mesa será mais que suficiente para um incrível aventura gastronómica, com ou sem o toque maravilhoso do café!