Actualização do Ponto de Situação Laboral
Como muitos de vocês sabem, há uns dias desabafei aqui sobre como me sentia fracamente motivado no emprego e que isso estava a mexer psicologicamente comigo.
Eu sou daquele tipo de pessoas demasiado transparente.
Isto é, se estiver chateado com alguém vai-se ver a léguas que eu estou chateado.
Gostava de ter a capacidade de fazer um sorriso, criar conversa e não deixar transparecer os meus sentimentos mas não sou de todo capaz.
Eu sou aquela pessoa que imaginem que está a preparar-se para fazer uma reclamação e mentalmente visualiza a forma como vai abordar o tema. Ora eu não consigo manter essa conversa fictícia na minha cabeça, eu faço imensas caretas, os meus lábios mexem-se de acordo com as palavras que imagino, todo o meu corpo vibra de uma forma diferente consoante a energia que eu mentalmente estou a projectar.
Isto tudo para dizer que apesar de eu achar que não estava a passar uma vibe de desmotivação (apesar de estar) devia ser mais que óbvio que afinal devia estar a transpirar essa vibe por todos os poros do meu ser (atenção que continuei a trabalhar arduamente e não me deitei a dormir, mas certamente que a minha alteração energética era palpável).
Ontem o meu patronato veio-me perguntar se estava tudo bem.
Por um lado fiquei satisfeito com essa aproximação, por outro instalou-se em mim um bocadinho de pânico, porque já estava a imaginar que a conversa ficasse pesada e não queria mesmo piorar a forma como me sentia no trabalho.
O meu primeiro impulso foi mentir com todos os dentes que tenho na boca e dizer que estava tudo bem, espectacular, sem qualquer problema.
Mas depois pensei, então eu ando a queixar-me e depois quando tenho a oportunidade de ser escutado acobardo-me?
Mandei tudo cá para fora.
Tudo de uma forma ponderada, reflectida, sem alterações de voz nem crises sentimentais. Fui assertivo e tentei o meu melhor para fazer críticas construtivas e não julgamentos de valores ocos e sem pertinência.
Disse com todas as letras que por vezes me sentia desmotivado, que às vezes não sabia se valia a pena esforçar-me se o reconhecimento era igual tanto para os que se esforçam como para aqueles que não o fazem.
Partilhei as minhas dúvidas sobre se aquele era o meu caminho, mas disse claramente que não pensava mudar de área profissional, apenas duvidava se aquele espaço físico era o correcto para mim.
Abordei assuntos como reuniões de equipa e divisões de tarefa que foram prometidos há meses e mesmo anos e nunca foram cumpridos, e o impacto que isso tem numa pessoa.
E falei do salário.
Que tinha noção da realidade económica da empresa mas que tinha ainda mais noção da minha realidade, e que o dinheiro que levo ao fim do mês para casa em comparação com outros colegas da minha idade que trabalham em outras farmácias é muito menos, uma diferença de 5 centenas de euros.
No fim da conversa (sim, que a outra parte também falou, não foi um monólogo) relembrei-me que o patronato também é um ser humano como eu e possui o direito de errar.
Porém não deixei de sentir que é obrigação dele motivar os funcionários e estar atento às disparidades que possam existir.
Sim pode errar, mas essa permissão para o erro não invalida as suas obrigações.
Os temas que eu abordei, como o salário e as responsabilidades com divisão de tarefas, tudo isso ficou no ar, com algumas promessas e um grande talvez, o que para mim é melhor que um redondo não.
Porém não me iludo, porque no passado já se falou e debateu muita coisa que nunca viu a luz do dia.
Tenho expectativas que a minha situação melhor mas estou a fazer uma gestão cuidadosa delas, de forma a se elas não se concretizarem o impacto não seja estrondoso.
A minha decisão interna está tomada.
Nos próximos meses vou dar o litro como nunca dei.
Vou suar motivação de tal forma que hei-de acabar o dia com a bata encharcada.
Vou colocar de forma inequívoca em cima da mesa a minha capacidade enquanto funcionário.
Tudo isto sem esquecer que o grande objectivo do meu trabalho é ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas, seja uma constipação, um fungo na unha ou um excesso de flacidez no rosto.
Se no fim de tudo nada tiver mudado, ou se a mudança tiver sido insignificante comparativamente com o aumento da minha dedicação, então será altura de mudar.
Sem medos, sem arrependimentos, sem enésimas questões a assaltar-me a mente.
Só devemos criar raízes onde verdadeiramente somos felizes.