A Casa dos Ossos
Casa dos Ossos em 10 segundos: Descubram os Ossos Carregados, atrevam-se com a língua de porco fumada, pasmem-se com a velocidade do serviço que inexplicavelmente só demora eternidades quando é para trazer a conta!
Quando o Cara-Metade disse que queria ir à Margem Sul comer uma delicacy (adoro quando ele usa estes termos todos finos) fiquei logo com a pulga atrás da orelha.
Quando ele me contou que teríamos de ir a Sarilhos Grandes achei que ele só podia estar a brincar, porque energeticamente a probabilidade de tudo correr mal num sítio com um nome assim era mais que muita.
No momento em que ele revela que o restaurante se chama Casa dos Ossos senti um arrepio percorrer-me a espinha, porque não consegui evitar lembrar-me das milhentas ossadas da Capela dos Ossos em Évora.
Mas quando descobri que a Casa dos Ossos vendia língua de porco caguei (posso escrever o verbo cagar aqui no blog sem ser censurado?) para as energias e coloquei os pés ao caminho.
A Casa dos Ossos é um restaurante daqueles de antigamente, com um aspecto mais pesado e sem nenhuma decoração de fazer uma pessoa ficar deslumbrada, mas não é isso que o impede de estar sempre cheio, completamente a abarrotar, por isso se quiserem fazer uma visita recomendo que reservem com alguma antecedência.
E percebe-se tamanha afluência de pessoas quando a comida chega à mesa, porque é simplesmente divinal.
Comecemos pelo mais simples.
Para a mesa veio um costeletão de novilho, muito bem servido, tenro e cheio de sabor que fez as maravilhas do senhor meu irmão.
Depois, aquilo que me convenceu a visitar o espaço, uma língua fumada ao alhinho, com pickles e um molho de fazer qualquer pessoa ter um mini-orgasmo.
Se já estão a ter refluxo por lerem a palavra língua não é caso para tal.
Depois de fumada e cortada em rodelas finas a língua de porco é como se fosse outro enchido qualquer, carregadinho de sabor e impossível deixar de comer.
Então acompanhada por umas batatinhas fritas para molhar na molhenga é mesma uma coisa do outro mundo.
Mas se pensavam que a delicacy que o Cara-Metade falava era a língua de porco desenganem-se.
A especialidade da Casa dos Ossos, o prato que voa para a vossa mesa um minuto depois de o pedirem tal é a rotação do mesmo são os Ossos Carregados.
Os Ossos Carregados são uma parte das vértebras do porco que vêm cheios de carne suculenta que se desagarra facilmente, proporcionando-nos uma sensação de plena satisfação.
Este prato é uma espécie de Cozido à Portuguesa Pobre, porque é servido com couves e enchidos, mas sem batata ou nabo ou feijão, sendo possível pedirem um pouco de arroz à parte se forem do tipo de pessoa que não vive sem hidratos de carbono.
Na Casa dos Ossos nada desapontou.
Nem a simpatia, nem a rapidez do serviço, nem a qualidade do vinho branco da casa (ligeiramente frutado e que deslizou fantasticamente bem), nem sequer as sobremesas, muitas vezes o calcanhar de Aquiles de muitos restaurantes, que eram deliciosas e entre as quais faço uma ressalva muito positiva ao Travesseiro de Noiva e ao bolo de laranja e chocolate.
A única coisa que tenho a apontar foi o factor conta.
Não porque tivesse sido elevada, muito pelo contrário, mas porque demorou para aí uns quinze minutos até chegar às minhas mãos, o que me levou a temer que por momentos pensassem que eu fosse uma celebridade ou coisa do género e quisessem que eu oferecesse o almoço ao restaurante todo.
Concluindo, vale mesmo muito a pena a viagem até Sarilhos Grandes para provarem os Ossos Carregados, e se forem corajosos experimentem a língua, vão ver que não se desiludem!