Depois de escrever o post relativamente ao erotismo lembrei-me que deveria ter algures os textos que desenvolvi no curso de escrita erótica. Após muita procura encontrei um no qual ainda me revejo, ou seja poderia tê-lo escrito ontem quando na realidade já o escrevi há uns cinco anos atrás!
Aviso desde já que o texto que se segue não é adequado a menores de 18 anos nem a qualquer indivíduo que reaja excessivamente a estímulos literários. Não é soft porn nem nada que chegue aos calcanhares dos livros da Harlequin que a senhora das limpezas do meu trabalho lê, mas de qualquer das formas fica o aviso!
Nua. Ela estava sempre nua.
Despojada no chão da sala era difícil traçar a fronteira entre os nacos de pedra alva que se imiscuíam no branco corpo de mármore estendido.
Ele gostava de a ver assim, desprovida de artifícios, na sua forma natural, numa receptividade inesgotavelmente infinita.
Não conseguia definir o que nela lhe causava tanto anseio de consumação. Se era a perfeição das suas curvas ou a assimetria dos seus seios, se a monocromia da sua tez ou a apurada vastidão de tons dos seus pelos púbicos.
Talvez fosse uma mescla de tudo que fazia com que o seu pénis enrijasse descontroladamente contra o tecido barato das suas cuecas ameaçando rasga-lo fibra por fibra, tal como um mergulhador em apneia por demasiado tempo destrói a imperturbabilidade das águas no seu desvairo de possuir oxigénio.
Estendeu-se sobre ela, arrebatou-lhe as formas dos seios, beijou-lhe sequioso os mamilos sempre rijos espetados como que numa oração para um inerte céu.
Muda. Ela estava sempre muda.
Para ele era como uma provocação, à qual ele respondia com mais êxtase, o facto de ela ser uma inércia de sons, remetendo-se ao absoluto silêncio enquanto se deixava tocar
e lamber e esfregar e morder
como que se zombasse da sua pouca aptidão.
Redobrava o calor com a qual esmagava, tacteava todos os pedaços da sua [in]existência.
Tinha lido que o umbigo era o centro do desejo sexual.
Naufragou a sua língua naquela superfície ovaloide ao mesmo tempo que com um dedo lhe acariciava o clitóris e com outros dois lhe penetrava desesperadamente a vagina em movimentos circulares, como se fosse um saca-rolhas desvairado de carne e queratina.
Veio-se.
Inundou a roupa interior com um jacto quente e pulsante, deixando-a pegajosamente corrompida e com um odor a êxtase frustrado.
Fria. Ela estava sempre fria.
Caiu ao lado daqueles nacos de gélida carne mármore imbuídos, respirando com dificuldade, sentindo todo o seu corpo a esvair-se de energia.
Os lábios dela não tinham articulado um único movimento, continuavam prostrados perante o silêncio.
Levantou-se em fúria! Como podia ela ser assim
[fria,muda,nua]
tão desrespeitosa?
Com grandes passos dirigiu-se à porta, levando o seu pénis envolto em si próprio, até que parou, assolado por um pensamento.
Voltou-se e olhou-a com ternura.
Ela não tinha culpa.
No fim de contas tinha-a morto há mais de um mês.